Integrative Psychotherapy Articles
Uma Psicoterapia Integrativa do ajustamento* no pós-parto.
Carol Merle-Fishman
Tradução: Andre Rocha Cançado
Resumo:
Tornar-se mãe apresenta uma oportunidade singular de transformação, integração e redefinição na vida de uma mulher. Antes do nascimento, muitas mulheres estão despreparadas e desinformadas em relação ao profundo impacto que a maternidade terá em suas vidas. Enquanto as oportunidades de preparação para o nascimento florescem, existe uma contrastante e alarmante falta de preparação para as muitas tarefas e responsabilidades da maternidade. Como resultado, muitas mulheres são surpreendidas, ficam assustadas e confusas devido às mudanças que ocorrem na vida por causa da chegada de uma criança e, por isso, às vezes, sentem-se traídas pelo fato de não terem sido prevenidas (Maushart, 1999). Como a mulher passa rapidamente da gravidez para a maternagem, elas expressam assombro e raiva, frequentemente pensando que lhes foram escondidos alguns segredos sobre os primeiros passos da maternagem, situação que alguns chamam de mother shock (choque materno) (Buchanan, 2003). Comentários tais como "isso não era o que eu esperava", "não era para ser dessa maneira" ou "por que ninguém me disse que seria assim?" são comuns entre as mulheres no pós-parto.
A experiência do pós-parto é singularmente diferente para cada mulher e pode até mesmo ser dramaticamente diferente com cada criança que ela dá a luz. Dentro da medicina, pós-parto refere-se a um período no qual a mulher ainda experimenta os sintomas do nascimento; útero distendido, cérvix alargado e inchado e lochia (sangramento). Esses sintomas se dissipam ao final de seis semanas (Bing e Coleman, 1997) e, quando terminam, as mulheres são normalmente liberadas dos cuidados médicos para embarcar sozinhas na aventura da maternidade. Em contraste, a "recuperação psicológica no pós-parto", período no qual as mulheres experimentam os sintomas emocionais do nascimento, podem durar meses ou até anos, com algumas mulheres relatando que se encontram "em período de pós-parto pelo resto de suas vidas, porque elas se sentem permanentemente mudadas devido ao nascimento de suas crianças" (Bing e Coleman, 1997, p.98). A maior parte das mulheres é deixada sozinha para lidar com sua recuperação emocional do pós-parto; uma recuperação que impacta o resto de suas vidas, a vida das crianças e a cultura como um todo; uma recuperação com ampla duração, com implicações sociais e relacionais. Frequentemente, membros da família, amigos, profissionais da área médica, até psicoterapeutas fazem vista grossa, interpretam mal, ou enganam-se a respeito dos efeitos remanescentes da recuperação do pós-parto. Como aponta Erskine, "a recente literatura sobre neurociência, desenvolvimento infantil e sobre o vínculo precoce entre os cuidadores e a criança, chamam a atenção dos psicoterapeutas para a importância de enfatizar, dentro da relação terapêutica, as arcaicas experiências infantis relacionais pré-verbais do cliente" (2009, p.2), uma ênfase que também deve incluir um exame da recuperação pós-parto das mães desses clientes.
Na melhor das hipóteses, o período pós-parto é um momento com noites de insônia, aliviadas pela amável presença de parentes e de amigos que aparecem para admirar o novo bebê e ajudar a dar as boas-vindas a essa pequena pessoa que chega ao mundo. Na pior das hipóteses, o período pós-parto é um pesadelo; aparentemente, uma excursão não esperada e sem fim em direção à privação do sono, incerteza, confusão, recuperação física de uma cesariana e/ou parto traumático, tentativas frustradas de amamentação no seio, falta de conexão com a criança e um senso global de perda do self e de qualquer habilidade para garantir aos familiares uma vida anteriormente conhecida e desfrutada. Como as necessidades da criança aumentam e se intensificam, o cuidado de si é invariavelmente negligenciado. Sono, alimentação, um bom banho, tornam-se regalias do passado.Recreação, relaxamento, contato com o parceiro, amigos e até mesmo com o mundo externo, tornam-se memórias distantes. As necessidades imediatas da nova família podem levar ao acúmulo de negligência do self e das relações, estresse crônico e uma experiência traumática não esperada durante o período que supostamente deveria ser um dos momentos mais felizes da vida. A proximidade do encontro com as necessidades da criança, entrelaçada com a iminência de ter que aprender a ser um cuidador, frequentemente se combinam para produzir depressão, ansiedade e estresse.
A literatura a respeito do pós-parto, tanto leiga quanto clínica, frequentemente contribui para com os equívocos sobre as mulheres que vivem esse período; falham ao tentar normatizar o ajustamento psicológico do pós-parto. Inicialmente, a literatura clínica a respeito das mulheres que vivem esse período derivava de uma perspectiva psicanalítica, com inúmeros estudos de caso apontando o conflito, ambivalência e fantasias reprimidas que interferem na maternagem "saudável" (Mendell & Turrini, 2003) e pareciam basicamente culpar as mulheres por dificuldades no pós-parto e na maternagem. Atualmente, as mulheres em pós-parto que relatam quaisquer dificuldades ou "sintomas" estão agrupadas de acordo com três categorias de crescente patologia: baby blues (tristeza do bebê), definida como "sentimentos transitórios com um choro inexplicável, desespero fugaz ou breves períodos de despersonalização, durando as primeiras semanas após o nascimento" (Bing& Coleman, p.24); depressão pós-parto, definida como "uma versão mais duradoura e mais intensa do baby blues que pode incluir sentir-se triste, ansiosa, culpada, e/ou sem valor, além de mudanças de hábitos alimentares, padrão de sono e níveis de atividade, ataques de pânico, dificuldade de concentração, preocupação com a morte e/ou suicídio, alterações de humor, preocupações obsessivas com o bebê e/ou medos intensos de machucar o bebê" (Bing & Coleman, p.226); ou psicose pós-parto definida como "tristeza e depressão intensificadas que pode incluir confusão, incoerência, pensamento irracional e/ou delírios e alucinações os quais podem seriamente colocar em risco o cuidado de si e/ou do bem estar do bebê. (Bing & Coleman, p.241). Embora apresentadas como categorias distintas, essas experiências podem ter pontos de conexão ou avançar e recuar ciclicamente, com "psicose" acontecendo durante períodos de estresse agudo. Ausente dessa classificação está o simples, porém necessário, conceito que todas as mulheres e seus parceiros experimentam o ajustamento no pós-parto; uma reorganização psicológica após o nascimento de uma criança que representa uma adaptação esperada, necessária, devido a uma mudança na estrutura e homeostase da pessoa e da família. Isso, como qualquer mudança dentro de um sistema dinâmico, requer tempo e apoio, enquanto novas adaptações e acomodações externas e internas aparecem. É compreensível que mulheres possam sentir-se desorientadas, deprimidas, ansiosas, preocupadas ou até mesmo irracionais, enquanto apresentam mudanças no apetite, sono e nível das atividades. Toda a homeostase física, psicológica e social foi alterada. Contudo, em vez de terem suas singulares respostas de adaptação normalizadas, as mulheres são definidas, rotuladas e "patologizadas" sempre que demonstram qualquer reação que não seja um ajustamento perfeito e feliz diante da maternidade.
A literatura leiga e a mídia também reforçam sutilmente as expectativas irracionais no que diz respeito ao ajustamento para se tornar um cuidador. Mulheres atraentes, alegres, sorridentes e bebês cobrem as páginas de revistas destinadas aos pais e comerciais de televisão. Mulheres olham para esses anúncios e pensam, "o que tem de errado comigo?". Elas fantasiam que toda jovem mãe que encontram na rua "já sabe de tudo" enquanto elas desesperadamente tentam responder e adaptar-se a esta cultura generalizada, ao mesmo tempo em que tentam responder às singulares demandas de suas famílias de origem. Às vezes a única informação que as mulheres recebem sobre o ajustamento no pós-parto vem das inúmeras histórias de celebridades que viveram dificuldades no pós-parto, mas raramente essas mulheres famosas refletem a vida de uma mãe comum (Shields, 2005). Na privacidade de suas casas, as mulheres com frequência sentem-se isoladas, solitárias e sobrecarregadas pelas demandas do novo bebê. Não raro, elas sentem-se culpadas por causa do ajustamento à maternidade. Em uma cultura inclinada a observar minuciosamente as mães e criticá-las por suas falhas, as mulheres sentem-se vulneráveis e assustadas devido às exigências de desempenho internas e externas. Sob essas circunstâncias, muitas mulheres se escondem, em sentido figurado e/ou literalmente. Como aponta o DSM-IV (1994) "mulheres sentem-se especialmente culpadas quando têm sentimentos depressivos em uma situação que elas acreditam que deveriam estar felizes. Elas podem relutar em discutir seus sintomas ou seus sentimentos negativos em relação à sua criança" (p.386). De acordo com um estudo publicado na Revista da Associação Médica Americana (Journal of the American Medical Association) em 2006, estima-se que uma em cada sete novas mães sofre de depressão pós-parto. Ainda mais alarmante, é o estudo que estima que a depressão pós-parto não é diagnosticada em aproximadamente 40-50% das novas mães, levando os pesquisadores a acreditar que questões relacionadas ao pós-parto são ainda mais comuns do que anteriormente se acreditava (Munk-Oslen, Laursen, Pedersen, Mors & Mortesen, 2006). Mulheres que viveram um parto prematuro e inesperado, prolongado, cesariana, nascimento difícil ou traumático, com ou sem dano físico para elas ou seus bebê, ou são sobreviventes de abuso emocional, físico ou sexual, estão mais ainda em risco de enfrentarem dificuldades durante o ajustamento no pós-parto (Simkin & Klaus, 2004). Soma-se a essa lista, história de depressão, ansiedade, infertilidade, aborto espontâneo, natimorto, inabilidade amamentar no seio, adoção ou perda emocional ou física de uma mãe em uma idade precoce; as nuances, possibilidades de desafios e trauma durante o pós-parto aumentam ainda mais. Na falta de uma recordação explícita, dificuldades durante a gravidez, nascimento e recuperação no pós-parto podem ser os primeiros indicadores de uma história prévia de negligência cumulativa, trauma e/ou abuso físico ou emocional, mostrando um caminho para a recuperação de antigas memórias inconscientes (Erskine, 2008). Profissionais cuidadores que entendem tudo isso são inestimáveis para guiar mulheres grávidas ou em pós-parto em direção à ajuda que elas precisam para resolver essas questões para que elas possam se aproximar com êxito do parto, do ajustamento no pós-parto, além de criarem seus filhos com expectativas embasadas no aqui-agora, livres o máximo possível do fardo de traumas passados, negligências não–resolvidas e falhas relacionais.
Devido às mais variadas possibilidades de ajustamento no pós-parto é muito importante que seja oferecido às mulheres oportunidades para a normalização de sua experiência. Como escrevem Erskine & Trautmann "... normalização [ajuda] clientes ou outras pessoas a categorizar ou definir sua experiência interna ou seu comportamento de lidar com questões de uma perspectiva patológica ou "há algo de errado comigo" para uma que respeite as antigas tentativas de resolução de conflitos. Parece ser fundamental que o psicoterapeuta se oponha às mensagens parentais ou sociais...e que comunique que a experiência do cliente é uma reação defensiva normal – uma reação que muitas pessoas poderiam ter se encontrassem situações similares na vida" (1997, p.32). A esse respeito, cada mulher que se aventura na maternidade requer normalização, uma compreensão baseada em sua singular história, relacionamentos e vínculos, em vez de uma definição de respostas "problemáticas" de pós-parto baseadas em descrições clínicas e na patologia.
Um modelo clínico para a compreensão do ajustamento no pós-parto: Psicoterapia Integrativa
A Psicoterapia Integrativa oferece uma teoria compreensiva e uma metodologia que abrange a visão do "desenvolvimento humano na qual cada fase da vida apresenta crescentes tarefas de desenvolvimento, sensibilidades únicas no relacionamento com outras pessoas e oportunidades para novos aprendizados" (Erskine & Trautmann, 1996, p.316). Dessa forma, a Psicoterapia Integrativa oferece uma excelente estrutura para se compreender e trabalhar com a recuperação no pós-parto; uma fase específica na vida de uma mulher que apresenta a grande tarefa de aprender a cuidar, com sensibilidades relacionais únicas, tanto para com o parceiro quanto para com as crianças, e oportunidades aumentadas em muitas áreas para novos aprendizados básicos de como se estruturar uma família.
O Self no Relacionamento
O modelo do Self no Relacionamento como proposto por Erskine (1980) oferece uma maneira de compreender o funcionamento cognitivo, comportamental, afetivo e fisiológico da nova mãe. Todos esses quatro domínios do self são profundamente afetados pelo nascimento de uma criança e requer consideração e integração durante a recuperação, possibilitando o contato com as demandas externas e internas da maternidade, mesmo que não previstas. A tarefa de tornar-se uma mãe precisa acontecer em "tempo real" em resposta ao acelerado desenvolvimento físico e psicológico de um bebê no primeiro ano de vida. Em uma cultura cada vez mais dependente da tecnologia para informar sobre comportamento e tempo de resposta, pode ser desafiador perceber que os bebês não vêm com um botão de "pausa" ou com "instruções de uso" (Lamott, 1993). Como as necessidades diárias do bebê surgem, simultaneamente a mãe é confrontada com sua própria reorganização cognitiva, afetiva, comportamental e fisiológica. Enquanto dentro de uma montanha russa de altos e baixos emocionais, frequentemente estimulados ou influenciados por flutuações hormonais, memórias de sua própria infância estão sendo subitamente estimuladas, frequentemente fora da consciência. Mulheres frequentemente contam experiências de amor e vínculo nunca antes conhecidas ou previstas. Em contraste, outras mulheres relatam sentimentos de extrema solidão e negligência. Em ambos os casos, o mundo dos afetos e das emoções tornam-se profundamente ativados. Concomitantemente, a nova mãe precisa se comprometer na solução de problemas imediatos no que diz respeito ao cuidado infantil, pensar sobre novas e inesperadas situações, criar um novo sistema de apoio médico e/ou social e aprender um vasto arranjo de habilidades de cuidado e comportamentos, desde o aleitamento, até o banho do bebê e conciliar trabalho e maternidade, enquanto reestrutura todos os aspectos do manejo do tempo pessoal e familiar. Com frequência, muitas se sentem em um contínuo jogo de pega-pega, procurando lidar com o rápido desenvolvimento de seu bebê. Elas também relatam que quando finalmente compreendem as atuais necessidades do bebê, novas necessidades aparecem. Por exemplo, um bebê que estava dormindo durante a noite na semana passada é, nesta semana, um bebê acordado e desconfortável devido a uma dor de dente. Os domínios cognitivos e comportamentais são desafiados, estimulados e com frequência sofrem estresse.
Cozolino (2006) discute sobre as mudanças fisiológicas que ocorrem no cérebro em resposta à estimulação cognitiva e afetiva advindas da maternidade. Ele descreve a "experiência dependente da plasticidade" do cérebro materno, mencionando que "ter crianças aumenta, estimula e desafia o cérebro a crescer" (p.82). A revisão de sua pesquisa sobre o desenvolvimento cerebral indica que "mães e crianças estimulam o crescimento dos cérebros umas das outras" (p.83), mencionando "que pais e não-pais vêm demonstrando diferentes padrões de ativação cerebral em resposta ao choro e sorriso de bebês, refletindo mudanças no cérebro dependentes de experiências resultantes de vivências maternas/paternas (p.83). Ele sugere a possibilidade de que " a labilidade emocional que vemos em muitas novas mães é uma expressão de uma sensibilidade ampliada diante de temperamentos interpessoais requeridos para uma ótima sintonia e aprendizado" (p.83). A esse respeito, labilidade emocional pode ser vista como normal, necessária e não como patológica.
Enquanto o corpo se recupera do nascimento, os domínios cognitivo, afetivo e comportamental do self também são estimulados. Mulheres abrem mão de suas próprias necessidades para estar à disposição das necessidades de sobrevivência da criança. Todas as formas de cuidado pessoal e de autorregulação incluindo sono, alimentação, banho, exercícios, diversão, interação social até consultas médicas podem ser deixadas de lado, contribuindo significativamente para um potencial acúmulo de estresse, ansiedade e depressão, enquanto a mãe procura manter-se diante desse intenso período de crescimento e desenvolvimento, tanto para ela, quanto para sua criança. Se a mãe precisa voltar para o trabalho e/ou existem outras crianças ou membros na família que demandam cuidados e atenção, sua habilidade de manter seu cuidado físico e emocional é ainda mais indeterminada. A maneira através da qual uma mulher lida com esses desafios cognitivos, afetivos, comportamentais e fisiológicos é informada pela história de sua maneira de se relacionar; uma história revelada através de ambas as memórias implícitas e explícitas e/ou falhas no vínculo (Cozolino, 2006). Em um fantástico paralelo de desenvolvimento, uma mulher integra, reinventa e cresce em direção à maternidade, enquanto simultaneamente se desenvolve e cresce como ser humano.
Script de vida, Memória e Vínculo
De acordo com Berne (1972) "primeira programação de script acontece durante a amamentação, na forma de breves injunções que podem ser transformadas em complicados dramas no futuro" (p.83). Por exemplo, o bebê que é tipicamente apressado, ignorado ou amavelmente acompanhado durante a amamentação, vai carregar esta precoce injunção para outras interações no futuro. Erskine (2009) expandiu as ideias de Berne por delinear a associação entre script de vida e padrões de vínculo formados precocemente na infância, enfatizando "o significado da infância e arcaicas reações infantis de sobrevivência sub-simbólicas, pré-verbais e fisiológicas e conclusões experienciais implícitas que formam mapas de comportamentos inconscientes ou modelos de funcionamento interno do self no relacionamento". Essa definição compreensiva de script de vida considera as "profundas influências da primeira infância" (Erskine, 2009, p.4) consequentemente, destacando que o ajustamento da mãe no pós-parto possui um potencial para influenciar profundamente o desenvolvimento psicológico de sua criança. A recuperação física da mãe, assim como a adequação à maternidade, aos suportes familiares e sociais, padrões de vínculo, devem, por definição, afetar a criação de modelos de funcionamento do self-no-relacionamento e formação de script da criança. A criança está sendo "profundamente influenciada" em um relacionamento com uma mulher que está atravessando uma das experiências mais dinâmicas da vida adulta, envolvendo a ativação de memórias implícitas, pré-verbais e sub-simbólicas de sua própria infância e do ajustamento no pós-parto de sua mãe. Os modelos ou desordens de vínculo da mãe formados em resposta à sua primeira infância rapidamente se manifestam quando ela começa a cuidar de sua própria criança. Camadas de passado, presente e relacionamentos potenciais começam a emergir dentro do contexto da díade no pós-parto; uma orquestração dinâmica e intricada de duas vidas interligadas representando um passado arcaico, o presente e futuras possibilidades relacionais.
Caso clínico: Natalie
Natalie passou muitos anos em psicoterapia com vários psicoterapeutas. Mãe divorciada com três filhos, agora casada novamente, ela tem uma história de escolha de parceiros que não estavam dispostos a satisfazer suas necessidades relacionais para além do campo sexual, e descobriu, quando adolescente, que o sexo era uma maneira de satisfazer sua necessidade de afeição, reconhecimento e segurança. Natalie manteve uma forte aderência à crença central "há algo de errado comigo", continuamente procurando pelo psicoterapeuta "certo" que concordaria com ela e iria finalmente curá-la, para que outras pessoas pudessem amá-la e ser emocionalmente disponíveis com ela.
Ao explorarmos a história da família de Natalie, casos sobre sua infância confirmaram sua profunda sensação interior de fragmentação e de que algo estava "muito errado". Houve uma época em que sua mãe a deixava dentro de uma gaveta em um quarto de hotel quando ela tinha apenas seis meses de idade, enquanto ia ao cinema; que sua mãe deixou a Natalie de três meses de idade com uma vizinha para fazer compras, mas não voltou para a tempo para alimentá-la. Natalie era exclusivamente amamentada no seio e quando sua mãe voltou, Natalie estaria supostamente histérica, com fome e sofrendo. Era um caso de "braço roxo na banheira". A mãe estava dando banho em Natalie, o que normalmente é uma experiência prazerosa, e ela não entendia por que Natalie estava chorando tanto. "Então ela olhou para baixo e percebeu que segurava meu braço tão apertado, que ele ficou roxo". Natalie soube dessas histórias por que elas se tornaram parte da trama da história familiar, frequentemente contadas tranquilamente por sua mãe durante encontros familiares. Além disso, Natalie ainda vivia no presente a sensação de que "havia algo errado com os abraços de minha mãe. Ela não podia nem mesmo segurar meus filhos quando eram bebês. Ela parecia muito desconfortável".
Ao longo de sua atual psicoterapia, Natalie percebeu que sua mãe tinha sido aterrorizada e abandonada quando ainda era uma jovem mãe, incapaz de estar totalmente presente para Natalie, para enxergá-la, conhecê-la, e perceber suas necessidades. A profunda sensação de "há algo errado comigo" foi uma atual e criativa tentativa de mudar a si mesma, em vez de esperar pelos cuidados que ela tão desesperadamente precisava. Sua história estava inextricavelmente entrelaçada com sua experiência no pós-parto.
Mulheres que pensam estar adequadamente preparadas para a maternidade são frequentemente surpreendidas, ou mesmo oprimidas pela inundação de emoções e memórias estimuladas pelo pós-parto com o nascimento de um bebê e pelos requisitos necessários para cuidar de uma criança. Psicoterapia com mulheres no pós-parto oferece uma oportunidade excepcional para entender a infância da própria mãe, dramas infantis precoces e ou mensagens de script, vividos através das atuais relações com seu novo bebê, companheiro, os familiares e amigos. Como ela começa a cuidar de seu bebê e procura se autorregular, a antiga história é atuada e corporificada, enquanto memórias implícitas e explícitas são reveladas em seus pensamentos, sentimentos, comportamento e corpo. Estamos aptos a observar os crescentes padrões de vínculo entre a mãe e o bebê que são uma janela para se enxergar a possível formação do script de vida da criança. Como mulheres lutam com questões relacionadas à alimentação, padrões de sono, expressões de amor e afeto, voltar para o trabalho ou ficar em casa, as histórias referentes a um vínculo seguro, ansioso, ambivalente, desorganizado ou isolado, emergem (Erskine, 2009). Como a história dessas duas vidas se desdobram e se conectam, nós estamos diante da confluência de novas e antigas memórias e relacionamentos, com todas as atuais oportunidades de repetição ou reparação.
Vínculos, memórias e ajustamentos no pós-parto ocorrem mesmo quando uma mulher perde uma criança. Mulheres que abortaram intencionalmente ou não, ou uma criança natimorta, frequentemente mantêm um profundo vínculo com suas crianças (Davis, 1996). Marion, de 43 anos, é um verdadeiro exemplo disso.
Ela e seu marido gastaram seis anos e milhares de dólares tentando conceber uma criança. Eles estavam extasiados quando o procedimento de sua segunda fertilização in vitro resultou em uma gravidez viável. Contudo, testagens genéticas na décima sexta semana revelaram uma alteração cromossômica severa e que a filha deles não tinha sobrevivido à gravidez. Dada a escolha de parto induzido ou natural, Marion escolheu esperar pelo parto e dentro de dois dias deu a luz. Embora o médico e o marido dela asseguraram, durante suas contrações dolorosas, que tudo terminaria logo, ela temia esse final, quando o bebê deixaria seu corpo. Felizmente, foi permitido a ela e ao seu marido segurar, nomear e fotografar o bebê, criando algum senso de resolução para a experiência. Marion continuou a sofrer a perda de seu bebê nas sessões de sua psicoterapia, eventualmente compartilhando comigo as fotografias tiradas dela e o livro do bebê que ela amorosamente e carinhosamente colocou junto com antigas lembranças, fotos de ultrasom, fotografias felizes de Marion segurando sua barriga grávida e fotografias de membros da família que sua filha jamais conheceria.
Milagrosamente, e contra muitas probabilidades, Marion concebeu outra fertilização in vitro dez meses depois. Como o nascimento desse bebê saudável estava próximo, repentinamente, Marion entrou em uma inesperada depressão e ansiedade em uma tarde após uma aula sobre o nascimento de crianças. Lembranças de seu primeiro parto vieram à tona. Ela sofreu e se censurou por não ter pedido à enfermeira para desembrulhar sua filha para que ela pudesse ver todas as partes de seu delicado corpo. Ela percebeu que não podia ter sido capaz de escolher um nome para o novo bebê, também uma menina. Ela apenas conseguia pensar em sua primeira filha e no nome perfeito que lhe foi dado. Ela sofria com o que dizer quando as pessoas, ao ver sua barriga de gravidez, perguntariam se era o seu primeiro bebê. Em todos os níveis, ela começou a sentir que o bebê que estava para nascer era uma traição do amor que sentia pelo primeiro bebê. Eu sugeri a Marion que ela estava me contando uma importante história sobre vínculo e amor. Ela estava ligada e apaixonada com sua primeira filha, mas perdida em relação a como expressar isso. Ela precisava de permissão para amar e dar as boas vindas ao outro bebê. Eu encorajei Marion a escrever uma carta à sua filha perdida e trazê-la em sua sessão. Ela resistiu a essa sugestão por algumas semanas, apesar de ela continuamente me dizer sobre a contínua conversa interior que ela estava tendo com o bebê perdido. Finalmente, ela chegou em uma sessão com a carta; uma comovente expressão de seu amor por essa criança, arrependimentos sobre a oportunidade perdida de nem mesmo conhecê-la, e compromisso de mantê-la em sua lembrança. Ela pediu ao bebê para tomar conta de sua nova irmãzinha e agradeceu a ela por ter sido a primeira a torná-la mãe. Foi uma sessão angustiante e dolorosa para Marion. Na semana seguinte, Marion chegou em meu consultório alegre e radiante. No final de semana, ela teve o primeiro sonho com o bebê que estava para nascer. "Eu estava oprimida por causa do novo bebê, mas eu a vi. Ela estava aqui. Eu não sabia o que fazer com ela, mas está tudo bem porque tive um sonho com ela! Eu tive um sonho normal de expectativa! Isso é tão excitante! Eu não entendi como escrever uma carta iria me ajudar, mas ajudou. Obrigada". O final e completo reconhecimento do vínculo com sua filha perdida abriu caminho para ela dar a luz e as boas vindas para seu próximo bebê.
Questionamento, Sintonia, Envolvimento e Necessidades Relacionais
Questionamento, sintonia e envolvimento nos ajudam a ir além da empatia terapêutica comum para um relacionamento mais profundo no qual o cliente percebe que é completamente conhecido, respondido e compreendido pelo psicoterapeuta. No nível mais fundamental, esse processo reflete o antigo processo de parentalização que depende de delicadas formas de questionamento, sintonia e envolvimento. Na ausência de uma linguagem verbal ou conhecimento concreto compartilhados da experiência subjetiva da criança, a mãe precisa depender exclusivamente de formas não verbais de comunicação, as quais requerem um constante requinte da intuição e da sensibilidade para com seu filho (Stern 1985, 1990). Como escreve Erskine et. al (1999), " em Psicoterapia Integrativa, nosso questionamento começa com o pressuposto de que o psicoterapeuta não conhece nada sobre a experiência subjetiva do cliente" (p.19). Assim como acontece entre psicoterapeuta e cliente, acontece o mesmo entre a mãe e seu novo bebê; um novo encontro entre dois indivíduos, um relacionamento onde um não conhece plenamente o outro. Estabelecer formas não verbais de questionamento, sintonia e envolvimento tornam-se os meios pelos quais a mãe começa a conhecer as necessidades relacionais de segurança, valor, aceitação, mutualidade, definição pessoal, ser impactado, ter o outro tomando iniciativa e amor, para estabelecer um vínculo seguro e promover um desenvolvimento saudável (Erskine, Moursund & Trautmann, 1999). Antigas ou recentes deficiências ou interrupções no preenchimento das necessidades relacionais da mãe vão, necessariamente, informar como essa mãe vai cuidar de seu bebê e criar um saudável relacionamento recíproco.
Assim que a mãe começa a cuidar do bebê dela a paisagem de seu passado e presente relacional começa a aparecer. Necessidades não reconhecidas do passado podem convergir e colidir com o presente na forma de tentativas inconscientes para reparar falhas através do relacionamento com o bebê. Assim como o bebê olha para a mãe em busca de segurança, validade, aceitação, mutualidade, definição pessoal, ser impactado, ter o outro tomando iniciativa e amor, a mãe também procura no bebê e nos outros à sua volta, garantia de que ela é validada, aceita e segura em seu novo papel como mãe. Novos desafios relacionais frequentemente aparecem entre a mulher e seu companheiro no momento em que ela se vira para ele/ela como figura central para encontrar necessidades atuais, assim como para reparar falhas do passado. Novos pais frequentemente se encontram completamente despreparados para a extensão desses desafios mesmo dentro das parcerias e casamentos mais estáveis. Se uma mulher se sentiu desvalorizada por sua própria mãe, ou por outra pessoa importante durante seu desenvolvimento, é provável que essas lembranças apareçam assim que ela se aproxima dessa importante tarefa de sua vida adulta. Ela irá invariavelmente olhar para seu parceiro em busca de contínua reafirmação, reconhecimento e apreciação. Se o parceiro dela não estiver apto para apoiá-la nesse sentido, é quase que certo que isso resulte em uma crise relacional.
Mulheres que se sentiram inseguras, não amadas, ou impotentes frente suas habilidades de iniciar ou criar uma forma de impactar as pessoas em sua infância, frequentemente procuram em seus bebês e parceiros por validação, aceitação e amor. Mulheres que usaram suas carreiras para reparar e repor falhas relacionais, encontrando valor e definição pessoal por suas performances no local de trabalho, frequentemente se encontram lutando para atravessar um dia onde as maiores conquistas se resumem a conseguir ninar um bebê nervoso ou encontrando uma oportunidade para tomar banho, comer e se vestir (Maushart, 1999). Elas se encontram de repente e inexplicavelmente procurando achar em seu bebê e/ou companheiro um completo arranjo de necessidades relacionais, assim como seus parceiros também tentam lidar com suas próprias experiências de ajustamento no pós-parto, sentindo-se, tontos, sobrecarregados e também bombardeados por suas antigas lembranças, como que competindo por simples necessidades físicas e emocionais tais como sono e escalada afetiva. Como um cliente expressou de maneira comovente no meio de uma inesperada crise conjugal durante o pós-parto, "Eu finalmente percebi que eu preciso que meu marido me dê o que eu dou para o bebê todos os dias. Se eu não recebo isso dele, eu me sinto esgotada e sobrecarregada por tomar conta do bebê e completamente ressentida e não disponível para perceber as necessidades dele". Por outro lado, mães que tiveram uma história de vínculos seguros e sucessos relacionais podem também ter que lutar com seu ajustamento no pós-parto devido a uma variedade de circunstâncias inesperadas. Por exemplo, um bebê sofrendo de cólica por meses irá desafiar e eventualmente desgastar até mesmo os pais mais estáveis e emocionalmente seguros.
Mesmo o parceiro que não deu a luz está propenso ao ajustamento no pós-parto. Como escreve Cozolino (2006) sobre um de seus pacientes, "o nascimento de seu filho…continha muitos fatores que acionaram dolorosas e violentas memórias de sua infância…acionadas pelo choro, o cheiro do talco do bebê, e intensos sentimentos de amor por, e até mesmo a dependência de seu filho" (p.137). Os homens frequentemente se encontram despreparados para tais surtos de memórias e sentimentos no momento de atender às necessidades de dependência de seus novos bebês e parceiras, uma vez que eram extremamente independentes. Além disso, homens comumente experimentam algum grau de perda, quando suas parceiras se tornam intensamente envolvidas com seus bebês ou preocupadas com seu próprio ajustamento. Eles com frequência relatam sentirem-se negligenciados e, tipicamente, levados a trabalhar duro, justificando longos períodos no trabalho; uma solução socialmente aceitável uma vez que eles são a principal fonte de renda. Como resultado disso, os pais evitam uma série de sentimentos sobre suas parceiras, sobre eles mesmos, sobre seus bebês e suas antigas lembranças. Tristemente, um longo e vicioso ciclo começa neste momento, com ambos os pais se sentindo negligenciados, com raiva e ressentidos, com pouco apoio sobre como quebrar esse ciclo e avançar em uma direção positiva. Também, por uma série de razões, os homens frequentemente recebem ainda menos apoio emocional disponível para lidar com essa turbulenta crise do que as mulheres recebam.
Caso clínico: Gina
Gina veio para psicoterapia no início de uma intensa e inesperada recuperação de pós-parto. No período de um ano ela viveu um aborto espontâneo no primeiro trimestre e uma gravidez a termo e estava agora sofrendo de ansiedade, incapacidade para dormir ou comer e uma crescente perda de interesse pelo bebê. Uma semana antes do nascimento de sua filha, de cesariana, Gina se apressou, organizando tarefas, entrevistando babás para o período diurno e procurando grupos de apoio. Agora, cansada, ela se afastou do mais importante, ligação e recuperação física e emocional necessárias durante as primeiras semanas de pós-parto. Ela se sentia principalmente deprimida e ansiosa enquanto cuidava da criança, achando intolerável não saber quanto de leite sua filha estava recebendo. Após três semanas, ela mudou exclusivamente para a mamadeira. A queda imediata de hormônios acelerou mais sua ansiedade, pânico e perda de interesse na maternidade levando seu médico a encaminhá-la para psicoterapia e prescrever medicação ansiolítica.
Assistente pessoal de um alto executivo (CEO-Chief Executive Officer) de uma companhia multimilionária, agora Gina tinha o mais importante emprego de assistente pessoal de todos: o de mãe. Ela estava ainda perdida em relação a encarar um dia com um novo bebê, achando o tempo sem fim, solitário e vazio. Ela sentia falta de seus amigos, um senso de propósito, de realização e de independência. Embora ter uma família tivesse sido uma parte importante de seu plano de vida, ela sentia muita culpa por seus sentimentos de vazio e saudades de sua antiga vida, e não podia compreender como isso poderia ter acontecido quando ela planejou tudo tão bem. Além disso, o marido de Gina, um consultor autônomo, altamente motivado, trabalhava por muitas horas e frequentemente viajava vários dias a cada vez. Embora excitado com a chegada de seu bebê ele estava investindo intensamente na "melhora de Gina", a fim de diminuir as demandas sobre seu tempo e energia. Assim que começamos a nos concentrar na experiência de vazio de Gina e eu questionei mais sobre sua infância e seus pais, importantes pistas começaram a aparecer. Seus pais imigrantes vieram para a América e "trabalharam pesado" para viver e criar seus filhos. Gina chorou assim que ela disse as palavras "trabalharam pesado". Ela percebeu que uma parte importante de sua ansiedade era por causa de ficar em casa e abrir mão de seu trabalho. Apesar de atender às constantes demandas de seu bebê, ela achava que não estava fazendo o suficiente. Ela não podia descansar, ela não podia simplesmente "estar" com seu bebê. Ela nem se permitiu tempo para realizar o luto de seu aborto antes de ficar grávida novamente "como uma missão", de acordo com seu marido. Ela não podia se lembrar de sua própria mãe ficando quieta. Na verdade, quando sua mãe foi cuidar de Gina depois que o bebê nasceu, ela providenciou cozinhar, limpar, lavar roupas, tomar conta de Gina e do bebê e dar algumas dicas entre todos esses afazeres. Gina percebeu, "Se eu não estou loucamente desgastada de tanto trabalhar, eu não estou fazendo o suficiente. É dessa maneira que é o trabalho. É assim que sempre organizei minha vida. Agora que eu estou apenas em casa com o bebê, eu me sinto continuamente como se devesse fazer algo a mais; como se isso não fosse suficiente, como se existisse algo além disso". Mensagens transgeracionais de script (Noriega, 2010), profundamente arraigadas na história de pós-parto de Gina e que agora vieram à tona, contribuíram para um plano de vida centrado em desempenho, sucesso e conquista, impactando significativamente o ajustamento no pós-parto de Gina.
A natureza única do ajustamento no pós-parto também pode apresentar paradoxos. Às vezes, mulheres de quem poderia se esperar dificuldades no pós-parto, na verdade se estabilizam e se desenvolvem como novas mães. Sarah, 28 anos, representa um perfeito exemplo disso. Com uma história de dificuldades em completar tarefas ou estabelecer uma meta em sua vida, ela estava desatenta e dispersa; constantemente apologética, decidida a tornar-se mais organizada e concentrada. Embora extremamente inteligente, teve que abandonar a faculdade por reprovação. No momento em que procurava terapia, explorava seus formidáveis talentos artísticos e buscava trilhar uma carreira, Sarah se casou e logo engravidou. Eu estava preocupada que a nova maternidade pudesse ser imensamente desafiadora para ela. Como poderia ela estar apta para cuidar de um bebê, quando era tão difícil para ela estruturar sua própria vida? Pelo contrário. Sarah assumiu a maternidade com uma paixão, compromisso e amor que ela nunca antes havia experienciado. Paradoxalmente a falta de estrutura diária ou previsibilidade serviu para Sarah perfeitamente. Ela cresceu e floresceu em meio a dias abertos devotados ao aleitamento e observar o bebê crescer. Como ela observou: "Eu percebi agora o tanto que fui feita para isso. Mas sou a garota que encara desafios. Eu me sinto muito confortável cuidando o dia todo, trocando fraldas e fazendo caras engraçadas". A maternidade ofereceu uma experiência de vida inesperada para Sarah, pelo fato dela ter encontrado um propósito em seu cotidiano e conforto em ser exatamente quem ela é.
Como o ajustamento no pós-parto representa um marco significativo na vida de uma mulher, é essencial que ele seja explorado até mesmo com clientes que sejam mais velhas ou que tenham crianças crescidas; uma investigação que é comumente negligenciada por psicoterapeutas e outros profissionais é o fato de desconhecerem o quanto de desentendimento, constrangimento e vergonha frequentemente inibem as mulheres de discutirem suas experiências de pós-parto impedindo, dessa maneira, oportunidades para insights e cura. Além disso, mulheres que sofreram aborto espontâneo ou deram a luz a natimortos, adotaram crianças ou serviram como barriga de aluguel, possuem ajustamentos no pós-parto que são frequentemente negligenciados pelos amigos, família e profissionais médicos.
Caso clínico: Rachel
Rachel e seu marido vieram para o aconselhamento de casal para resolver os efeitos incapacitantes da ansiedade dela no casamento e com os três filhos adolescentes. Ela estava constantemente ansiosa, hipervigilante e, às vezes, aterrorizada sobre o paradeiro deles, amigos e atividades fora do lar. Através de manipulações criativas e variadas, ela encontrou formas de manter as crianças em casa quando não estavam na escola. Quando era permitido às crianças procurarem interesses sociais, eles deveriam sempre pedir permissão e precisavam frequentemente suportar sua raiva e ressentimento por não ter sido incluída nos planos deles. A inabilidade dela de permitir o surgimento da independência apropriada deles estava afetando todos os níveis da vida familiar.
Rachel sabia que ela era ambivalente a respeito do crescimento de seus filhos. Tudo o que ela sempre queria era ser mãe e compensar com isso a família que ela nunca tinha tido quando criança. No momento em que conversamos a respeito de como tinha sido ir atrás desse sonho, eu fiquei sabendo sobre o nascimento de sua criança mais velha. Ela teve uma gravidez a termo normal, até que ela entrou em trabalho de parto. Quando a bolsa rompeu, ela soube imediatamente que havia mecônio no líquido amniótico. No momento em que ela chegou ao hospital, o bebê estava em perigo e nasceu através de uma cesariana de emergência e, então, imediatamente transferido para uma unidade de cuidados terciários. Rachel não teve a oportunidade de segurar seu bebê após ele ter nascido ou de vê-lo durante a primeira semana de vida. Enquanto se recuperava no hospital, ela recebeu a visita de assistentes sociais, que pareciam estar preparando ela para a possibilidade de que esse bebê não sobrevivesse. Ao longo dessa provação, ninguém ofereceu nenhuma possibilidade para ela ver o bebê ou opções para ela se recuperar estando próxima a ele. Para lidar com sua crescente ansiedade, ela começou a verificar o CTI Neonatal quase de hora em hora, dizendo para mim "Eu aprendi o sobre o que perguntar… por exemplo, como está a concentração de gases no sangue dele hoje?" Quando foi dito que o bebê estava piorando rapidamente, ela saiu do hospital contra as ordens do médico e foi encontrar seu filho pela primeira vez, recusando-se a sair do lado dele. Espantosamente, o bebê começou a se recuperar e dentro de dias recebeu alta. Contudo, uma vez em casa, Rachel tornou-se ansiosa e superprotetora para com o bebê, com medo de sair de casa com ele, ou de permitir que outros tivessem contato com ele, enquanto ele crescia como um bebê frágil e com cólicas, difícil de cuidar e inclinado a adoecer. Gentilmente introduzindo os conceitos de parto traumático e estresse no pós-parto, eu comecei a validar e normalizar a ansiedade e medo intensos que Rachel experienciou quando o bebê foi pela primeira vez afastado dela, a preocupação de que ele viesse a morrer e que ela não pudesse protegê-lo, segurá-lo ou ajudá-lo. Foi exigido dela desligar e substituir cada instinto e imperativo biológico em seu corpo no pós-parto. Minha sugestão de que ela estava na verdade ainda se recuperando de um trauma de pós-parto mal interpretado e não diagnosticado, provocou lágrimas de alívio. Dezoito longos anos de ansiedade e superproteção parental tinha sido uma tentativa de contar essa antiga história de pós-parto.
Uma mãe ansiosa que se preocupa obsessivamente com a saúde de seu bebê, com os cuidados da criança, sono ou esquemas de alimentação está invariavelmente contando uma história de seu próprio passado. Raramente ajuda diminuir ou dispensar as preocupações dela. Um questionamento sensível que apóia em vez de julgar ou criticar é necessário para trazer a história subjacente de suas preocupações para a consciência. Uma psicoterapia sensível, cuidadosa, baseada na relação, pode oferecer um apoio enorme e alívio para a nova mãe, enquanto a relação com o psicoterapeuta modela, mostra e encena o processo que ela precisa estabelecer com sua criança; questionamento, sintonia e envolvimento em uma relação projetada para prover segurança, consistência, validação, aceitação e crescimento. Com o envolvimento no aqui-agora recíproco do psicoterapeuta, a nova mãe pode explorar e compreender as reações de pós-parto e das histórias relacionais, enquanto é apoiada, encorajada e normalizada ao se deparar com as necessidades relacionais de sua criança. Como escreveram Erskine et.al (1999) "toda pessoa, especialmente toda criança, precisa de relacionamentos em que outra pessoa esteja reciprocamente envolvida…clientes experienciam não apenas as necessidades da relação no aqui-agora, mas também as necessidades desconhecidas do passado…o eco de um pedido por uma relação que esteve soando no psiquismo por anos (p.123). Nunca esse processo é tão perceptível quanto em um trabalho com mulheres durante o pós-parto.
Mães conversando juntas
Os potentes efeitos de uma aproximação baseada na relação para trabalhar com novas mães são ainda mais fortes quando se trabalha com mulheres em pós-parto em grupo. Trabalho em grupo mostra ainda um outro ponto de vista sobre as necessidades relacionais entre a mãe e seu bebê, assim como da mãe com seus pares. Quando é oferecido oportunidades para um diálogo honesto e livre de vergonha e julgamento, com a orientação de um psicoterapeuta hábil em modelar a normalização, questionamento, sintonia (harmonização) e envolvimento, as mulheres experienciam um grande alívio, talvez o melhor alívio, ao descobrir que elas não estão sozinhas ao confrontar os desafios da nova maternidade. Reafirmação ou conselho de profissionais de saúde, membros da família ou dos parceiros, raramente tem a mesma força encontrada em um encontro de grupo de mulheres em pós-parto. Testemunhar outra mãe lutando através da porta com um carrinho de bebês, ou outra chorar de frustração enquanto tenta acalmar uma criança com cólica, ou outra que tenta lidar com a intensidade de críticas interiores e julgamento próprio, enquanto equilibra bebê, casa, carreira e casamento, são todos antídotos poderosos para o isolamento e vergonha que muitas mulheres experimentam como novas mães. Cozolino (2006) nos ajuda a entender o valor dos grupos através de sua explicação do desenvolvimento do cérebro social que depende de interação com os outros para estimulação dos neurônios dessa região e comportamentos de interação social. Da mesma forma que o bebê precisa da mãe como modelo e fonte de empatia, ela precisa de interação social com outras mães para estimular seu comportamento materno, empatia e ressonância com sua criança. Além de oferecer um ambiente propício para a aceitação, mutualidade e impacto, esses grupos oferecem valiosas experiências de aprendizado social, que estão frequentemente ausentes em uma cultura dependente de tecnologia para fornecer informação e relacionamentos. Mulheres, suas crianças e seus parceiros sofrem quando há uma ausência do contato direto que oferece necessidades relacionais com outros seres humanos encarregados do processo de crescimento de outros seres humanos.
Estados do Ego
O conceito de Estados do Ego de Eric Berne fornece um modelo conceitual e operacional para se compreender como uma mulher pode realizar a tarefa adulta de se desenvolver e tornar-se uma mãe. Berne (1961) postulou três Estados de Ego: Pai, Adulto e Criança, definido o Estado de Ego Pai composto de pensamentos, sentimentos e comportamentos dos pais e outros cuidadores importantes; o Estado de Ego Criança composto de pensamentos, sentimentos e comportamentos da infância da pessoa e o Estado do Ego Adulto composto de pensamentos, sentimentos e comportamentos da pessoa no presente; um estágio de desenvolvimento no aqui e agora apropriado ao mundo. Berne (1961) expandiu a teoria dos Estados do Ego em sua hipótese de contaminação dos Estados do Ego, o processo através do qual Estados do Ego se sobrepõem e influenciam o funcionamento do presente. A Psicoterapia Integrativa desenvolveu as ideias de Berne por descrever uma aproximação clínica baseada no "processo de integrar a personalidade…ajudando os clientes a se conscientizarem e assimilarem os conteúdos de seus Estados de Ego fragmentados e fixados em um neopsiquê integrado" (Erskine & Trautman, 1997). Entender a contaminação de Estado do Ego dentro do modelo de uma Psicoterapia Integrativa ajuda a ilustrar como muitas mulheres se aproximam da maternidade. De acordo com Berne (1961) é mais provável que a contaminação ocorra quando o indivíduo se encontra sob estresse, tanto interno quanto externo, assim aumentando a probabilidade de que padrões antigos ou introjetados de pensamentos, sentimentos e comportamentos serão requeridos para lidar com esse estresse e resolução de problemas e impedindo a consciência de outras opções de pensamento, sentimento e/ou comportamento no aqui-agora. Como o período do pós-parto apresenta estresse e desafios em todos os domínios do self-no-relacionamento, ajustamento no pós-parto é repleto de oportunidades para contaminação dos Estados do Ego. Mesmo se uma nova mãe teve a oportunidade de cuidar de crianças em algum estabelecimento de treinamento pessoal ou profissional, ela está agora diante de uma experiência de vida completamente única e nova. Seu Estado de Ego Adulto (neopsiquê) é destituído da informação sobre o aqui-agora e da experiência de ser a mãe dessa criança em particular. Embora ela possa sentir um "amor de mãe" imediato e um vínculo com seu filho, é raro uma mulher que instintivamente sabe exatamente como cuidar do novo bebê em todas as circunstâncias que são apresentadas. Sob estresse de recuperação física e ajustamento psicológico, até mesmo sob as melhores condições, deparar-se com as necessidades físicas de uma criança é estressante. Na ausência de apoio e informação médica, familiar e/ou social, uma mulher pode, de maneira compreensível, acessar seu Estado de Ego Criança ou Pai para informá-la, resolver problemas e lidar com estresse.
Criar uma criança oferece o potencial para uma contínua estimulação do Estado do Ego Pai e Criança. A maternidade oferece uma oportunidade diária para uma pessoa perceber as memórias da infância e da adolescência, assim como lembrar-se das influências parentais (Siegel & Hartzell, 2003). Em particular, cuidar de uma criança pode revelar as primeiras lembranças pré-simbólicas e pré-verbais marcantes, frequentemente escondidas ou inacessíveis da memória consciente, mas guardadas dentro do Estado de Ego Pai e Criança e demonstrados através de histórias encenadas pelo corpo ou pelo comportamento (Erskine, 2009). A maneira como uma mulher segura seu bebê, responde ao choro e demandas dele, e enfrenta os desafios diários da maternidade, podem não apenas render fortes pistas daquilo que sua infância pode ter sido, mas de como ela foi criada. Uma compreensão dos Estados de Ego e da potencial contaminação durante o pós-parto ajuda as mulheres a integrar os fragmentos de seu passado e fixações introjetadas, para que elas possam encontrar-se com seu bebê e cuidar dele no aqui-agora.
Caso clínico: Leah
Leah veio para a psicoterapia queixando-se de intensa ansiedade e insônia como resultado de cuidar de seu filho de quatro meses de idade. Embora seu ajustamento com a maternidade mostrou-se tranquilo, uma mudança recente em seu padrão de sono a jogou em uma inexplicável circularidade. Ela se encontrou crescentemente incapaz de deixar a casa, sentindo-se culpada por fazer qualquer coisa que não fosse cuidar do bebê e estruturar seus dias ao redor de suas necessidades. Ela se descreveu como uma pessoa altamente organizada que gosta de manter uma agenda, sempre pontual para encontros e eventos, frequentemente ficando sentada em sua casa e olhando o relógio até a hora de sair. Cuidar de um bebê era desafiador. Como ela estava mudando, sua agenda também estava. Ela não podia antecipar quando sair e viajar, com medo de perder o horário de sono e alimentação dele. Se ela ficasse em casa e esperasse por ele acordar, ela se sentia inquieta, ressentida e com raiva. Ela se encontrava em um crescente vínculo desconfortável pela competição de necessidades.
Uma exploração da infância de Leah revelou uma mãe agorafóbica que nunca aprendera a dirigir e mantinha uma agenda restrita de eventos e tarefas caseiras. Compras de supermercado sempre aconteciam aos sábados, jantar às cinco da tarde e não era permitido a ninguém ficar na cozinha porque as coisas poderiam ficar "bagunçadas". Além disso, a ansiedade de sua mãe levou a uma extrema super-proteção. "Se nós estávamos com sede ela correria na frente e pegaria para nós um copo de água antes que pudéssemos fazer isso nós mesmos. Ela faria tudo por nós antes que tivéssemos uma oportunidade de fazê-lo por nós mesmos".
Agora como mãe, Leah sabia que precisava sair de casa e fazer coisas para ela e para o bebê, mas não sabia como. Ela se sentia cansada e ressentida cuidando de seu filho, sozinha em seu isolamento auto-imposto e culpada por ter esses sentimentos.
Ela se sentia ridícula por não perceber isso tudo, forçada a permanecer na rotina, ainda com raiva daquilo que era esperado dela. A história de pós-parto de Leah era um exemplo perfeito da recente maternidade estimulando memórias de uma menininha criada por uma mãe obsessiva e assustada, assim como a experiência introjetada dessa mãe, enquanto desesperadamente tentava viver no aqui-agora. Sua inabilidade para modular essa antiga batalha interna forneceu um campo fértil para ansiedade e estresse no pós-parto.
Conclusão
A recuperação de uma mulher no pós-parto entra na arena da psicoterapia porque ela tem estado continuamente em "terapia" quando ela dá a luz, ou quando procurou tratamento psicológico logo após o nascimento da criança, devido a estresse no pós-parto, ou como parte do questionamento sobre sua história em andamento no tratamento, ou sobre o casamento e/ou seu relacionamento com outros filhos. Toda nova mãe desesperadamente procura ser mais do que uma "mãe suficientemente boa". De maneira consciente ou não, as mulheres entram na maternidade com a intenção de ser a melhor mãe que poderia existir. Questões difíceis ou inesperadas no ajustamento pós-parto são a primeira ameaça a essa compreensível fantasia. Ajustamento psicológico saudável no pós-parto depende da habilidade da família, amigos, profissionais e de ambiente apoiador para questionar, sintonizar e se envolver com a nova mãe, enquanto ela se reinventa enquanto tal. Na presença de uma amorosa família e comunidade ela pode abraçar a oportunidade para relembrar, entender e curar antigas feridas e evitar a transmissão de falhas relacionais para seu novo bebê. Toda nova mãe precisa e merece sensibilidade com seu singular ajustamento à maternidade. Apenas dessa forma nós podemos acompanhar adequadamente as mulheres através de uma das mais importantes jornadas de suas vidas, a maternidade.
* A palavra ajustamento no contexto deste artigo pode ser compreendida no sentido de um novo equilíbrio, a necessidade de uma nova harmonização diante das alterações fisiológicas, emocionais e comportamentais da mãe após o nascimento de seu bebê, assim como uma reestruturação do relacionamento dessa mãe com todas as pessoas importantes em sua vida (Nota do tradutor).
Carol Merle-Fishman, Mestre, Conselheira Licenciada em Saúde Mental , (M.A., CMT, LCAT, LMHC) , é Consultora Licenciada de Saúde Mental e também como Terapeuta de Arte Criativa, possui certificado como Pisicoterapeuta Integrativa, Analista Transacional Clínica e em Terapia Musical. Inicialmente em sua carreira, trabalhou em hospitais e em clínicas como Consultora e Supervisora de Terapia Musical e fez parte do corpo docente de programas de graduação em Terapia Musical. Foi presidente da Associação Americana de Terapia Musical (American Association for Music Therapy). No início dos anos 1980 iniciou seus estudos em Análise Transacional e Psicoterapia Integrativa, expandindo seu trabalho para englobar essas duas teorias. Atualmente trabalha em clínica particular em Cortaland Manor, Nova Iorque, onde ela faz psicoterapia individual, de grupos e de casais, trabalhando com Psicoterapia Integrativa, Terapia Musical e oferecendo supervisão clínica. Com freqüentes apresentações em conferências nacionais e internacionais, ela publicou artigos de Terapia Musical e Psicoterapia Integrativa e é co-autora de The Music Within You (A música dentro de você). Carol é Membro Fundador e faz parte do corpo docente com Professora e Supervisora da Associação Internacional de Psicoterapia Integrativa (International Integrative Psychotherapy Association). Como mãe de duas filhas com idade de 24 e 17 anos, Carol tem um interesse especial nas questões das mulheres ao longo do seu ciclo vital.
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Data de publicação: 30.12.2010.